Na última sexta-feira, 26, os líderes financeiros do G20 emitiram sua primeira declaração conjunta, comprometendo-se a trabalhar em prol de uma tributação mais justa das maiores fortunas do mundo.
A reunião, que contou com ministros das finanças e banqueiros centrais das 20 principais economias, destacou a urgência de um sistema de tributação equitativo para indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto. Este encontro marcou um importante passo na direção de uma cooperação internacional, apesar das divergências sobre qual fórum deve liderar esse esforço.
O comunicado final da declaração ministerial do G20, divulgado no Rio de Janeiro, enfatizou a necessidade de um engajamento cooperativo para assegurar que os ricos sejam tributados de maneira justa.
No entanto, questões persistem sobre se essa iniciativa deve ser conduzida pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ou pelas Nações Unidas (ONU), o que gerou um debate vigoroso entre os participantes.
Competência da OCDE no centro do debate
Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, argumentou forte e publicamente que a OCDE, que tem liderado as negociações para um acordo global de imposto corporativo nos últimos três anos, é a organização adequada para essa tarefa. “Fizemos um enorme progresso, e a ONU não tem a expertise técnica para fazer isso”, afirmou Yellen.
Entretanto, essa visão não é unânime. Muitas nações em desenvolvimento, representadas no G20, manifestaram desconforto com a primazia da OCDE, que é vista como um “clube” de países ricos. Essas nações acreditam que a ONU proporcionaria um fórum mais inclusivo e democrático para a discussão e implementação de políticas tributárias globais.
Tributação das fortunas ultra-altas: qual o melhor caminho?
Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel, está entre os maiores defensores de um imposto mínimo global para bilionários, e acredita que a ONU deve liderar esse esforço. Segundo Susana Ruiz, líder de política tributária da Oxfam Internacional, confiar essa tarefa à OCDE não seria suficiente, dada sua composição e interesses predominantes.
Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do Brasil, reforçou a importância das Nações Unidas para as nações em desenvolvimento. “A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Cooperação Tributária Internacional é uma vitória para o ‘Sul Global’”, disse Mello, destacando que muitos países não são membros da OCDE e, portanto, têm menos voz no processo.
A pergunta que persiste: existe uma solução ideal?
Ao mesmo tempo, a realidade prática de instituir um “imposto bilionário” global enfrenta muitos obstáculos. A União Europeia, por exemplo, não conseguiu chegar a um consenso sobre um imposto global de riqueza, com nações como a França e a Alemanha divergindo fortemente sobre a questão. “Parece que pode ser muito difícil levar isso adiante”, comentou uma autoridade europeia presente nas reuniões.
Pontos principais da declaração do G20
- Compromisso com uma tributação justa de indivíduos com patrimônio líquido ultra-alto.
- Debate sobre a liderança da OCDE versus a ONU nessa iniciativa.
- Necessidade de um engajamento cooperativo para implementar essa tributação.
- Reconhecimento das dificuldades práticas em estabelecer um imposto global de riqueza.
Próximos passos e expectativas
A forma final que essa cooperação internacional tomará ainda está em aberto, dependendo de inúmeros diálogos futuros. Enquanto alguns observadores permanecem céticos, outros acreditam que a discussão em si já representa um avanço significativo. “A forma que isso tomará dependerá de muitos diálogos que serão realizados”, concluiu Mello.
Está claro que o caminho para uma tributação justa das maiores fortunas do mundo é complexo e cheio de desafios. No entanto, as declarações do G20 e a crescente conscientização global representam passos importantes em direção a uma maior equidade tributária, refletindo um esforço conjunto para abordar uma das questões econômicas mais prementes da atualidade.