O cenário econômico no Brasil permanece carregado de incertezas, levando o Banco Central a pausar o ciclo de afrouxamento monetário. Esta avaliação foi compartilhada pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, em recente entrevista concedida à Reuters.
Mello destacou que as taxas de juros no país estão muito acima do nível considerado neutro para a economia. Apesar das expectativas de redução, o ambiente econômico não apresentou melhorias significativas desde junho, quando o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 10,50%.
Incerteza sobre queda de juros
Segundo Mello, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por interromper o ciclo de corte da Selic após sete reduções consecutivas. A decisão foi tomada com base no ambiente desafiador tanto no âmbito doméstico quanto externo, que ainda não apresentou sinais de estabilização.
Mello pontuou que, desde a última reunião, o dólar teve um aumento de quase 7%, o que exerce pressão sobre a inflação e contribui para a manutenção do cenário incerto.
Compensação fiscal: Quais os desafios?
Outro ponto de preocupação para o Banco Central é o impasse em torno da desoneração da folha salarial de empresas e municípios. Mello destacou que esse fator pode comprometer o objetivo do governo de alcançar o déficit primário zero ainda em 2024.
A decisão do Supremo Tribunal Federal que estabeleceu prazo até 11 de setembro para que governo e Congresso aprovem medidas de compensação adiciona uma camada extra de incerteza ao cenário fiscal. Mesmo com uma compensação parcial, a execução orçamentária se mostra desafiadora.
Aumento da tributação sobre os super-ricos
Durante a reunião de líderes financeiros do G20 realizada no Rio de Janeiro, houve consenso em desenvolver propostas para a tributação de super-ricos, uma pauta fortemente defendida pelo Ministério da Fazenda. Mello afirmou que esta é uma “pauta que veio para ficar”, reconhecendo, no entanto, que sua implementação encontrará resistência dos países mais ricos.
A meta é buscar caminhos que tornem a tributação mais justa e eficaz, mas Mello admite que a mudança de governo nos Estados Unidos, por exemplo, poderia influenciar o ritmo dessa discussão sem, contudo, barrar a necessidade de um debate aprofundado sobre o tema.
Próximas etapas para a economia brasileira
A pausa no ciclo de corte de juros demonstra a cautela do Banco Central diante das incertezas econômicas. O governo trabalha para resolver questões fiscais e encontrar formas de taxar super-ricos, buscando um equilíbrio que eventualmente permita retomar a queda das taxas de juros.
Mello concluiu afirmando que o objetivo é criar condições para que, no futuro, seja possível retomar o ciclo de queda dos juros, contribuindo para a recuperação econômica do país. São muitas as incertezas, mas o esforço para equilibrar as contas e avançar em temas cruciais como a tributação dos super-ricos indica um compromisso com a estabilidade e a justiça fiscal.
Essas ações visam minimizar as incertezas e permitir que, futuramente, o ciclo de queda das taxas de juros possa ser retomado, favorecendo a economia brasileira.