A relatora especial da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre racismo, Ashwini K. P., manifestou profunda preocupação com o aumento das células neonazistas no sul do Brasil, com destaque para Santa Catarina. A representante esteve em uma visita oficial ao país entre os dias 5 e 16 de agosto, a convite do Governo Federal.
Durante sua visita, Ashwini K. P. passou por diversas cidades brasileiras, como Brasília, Salvador, São Luís, São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. Ela participou de reuniões com comunidades quilombolas, indígenas, integrantes do povo romani, movimentos sociais e representantes dos governos estadual e federal.
Crescimento de células neonazistas em Santa Catarina
A relatora da ONU incluiu em sua agenda de trabalho as impressões sobre o crescimento de grupos neonazistas em Santa Catarina, que serão registradas em um relatório destinado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. De acordo com Ashwini, há disseminação de discurso de ódio e crimes de ódio na região, o que é extremamente preocupante.
“Estou chocada por saber da presença de grupos neonazistas disseminando discurso de ódio e crimes de ódio e também preocupada com relatos de islamofobia direcionados a migrantes, incluindo pessoas refugiadas e solicitantes de asilo, particularmente em Santa Catarina”, disse Ashwini na declaração final de sua visita.
O delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, ressaltou que o estado possui uma delegacia especializada em crimes de intolerância, responsável pela descoberta de muitos casos. Segundo ele, essa unidade tem sido fundamental na identificação e combate ao neonazismo.
Dados da Delegacia de Racismo e Combate a Delitos de Intolerância mostram que, nos últimos dois anos, 54 pessoas foram investigadas por neonazismo, das quais 21 eram de Santa Catarina. Nesse período, 14 operações resultaram em 19 prisões e 30 indiciamentos.
Quais são as medidas necessárias para combater o Neonazismo?
Ashwini K. P. afirmou que, em Santa Catarina, “o discurso de ódio e o racismo não são abordados da mesma forma” que em outros estados do país. Ela apontou a falta de políticas afirmativas como um problema crítico. “É um lugar onde há falta de política de cotas, falta de ação afirmativa. Há uma certa negação neste estado em relação à política antirracista e antinazista”, declarou a relatora.
A relatora também destacou sua preocupação com o “alto nível de ameaça contra defensores de direitos humanos” no Brasil. Ela alertou sobre o racismo religioso contra seguidores de religiões de matriz africana e pediu que o governo monitore e crie leis para regular o uso de inteligência artificial e câmeras de reconhecimento facial pelas polícias.
Como o passado colonial influencia o racismo atual?
Segundo Ashwini, o racismo no Brasil varia de grupo para grupo, mas todos enfrentam exclusão social significativa. Ela refletiu sobre o impacto do passado colonialista do Brasil nos grupos marginalizados, enfatizando que o “sistema do país impacta profundamente esses grupos”.
Em um apelo final, a relatora especial da ONU solicitou medidas urgentes e efetivas para combater o crescimento do neonazismo e o racismo em Santa Catarina e em todo o Brasil. “O governo deve adotar políticas afirmativas e combater a negação da existência do racismo e do neonazismo para proporcionar um ambiente mais seguro e acolhedor a todos”, concluiu.
Com informações da Folha de S. Paulo