Até ser indicado ao comando do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo percorreu um caminho que passa pela aproximação com a cúpula do PT antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser eleito para o terceiro mandato.
Também fazem parte dessa trajetória a carreira de cinco anos no setor bancário e um desempenho acadêmico que chamou atenção de professores desde a graduação em Economia, em um histórico que passa longe da chamada ortodoxia e é marcado por sua capacidade de diálogo.
Se ratificada pelo Senado, a presidência do BC será o terceiro e mais importante cargo que Galípolo ocupará na atual gestão. Logo no início do governo, ele serviu como secretário-executivo do Ministério da Fazenda, sendo o segundo posto na hierarquia da pasta, atrás apenas do ministro Fernando Haddad.
Em julho do ano passado, assumiu a diretoria de Política Monetária da autarquia, cargo que ocupa até hoje.
Quem é Gabriel Galípolo?
O economista Gabriel Galípolo tem uma trajetória acadêmica marcada por seu interesse em filosofia e literatura. José Márcio Rego, seu professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destaca que Galípolo não é um “heterodoxo ortodoxo”, mas sim um pragmático que preza pelo diálogo.
A trajetória acadêmica e profissional de Galípolo inclui colaborações com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e parceiro na escrita de três livros. Em suas obras, Galípolo explora a intersecção entre economia e outras áreas do conhecimento, como filosofia e literatura, demonstrando uma abordagem multifacetada para questões econômicas complexas.
O economista também atuou em cargos públicos no governo de São Paulo, sob a gestão do governador José Serra (PSDB) em 2007. Posteriormente, fundou a Galípolo Consultoria e desempenhou um papel importante na estruturação de projetos de infraestrutura, como a PPP da Linha 6 Laranja do metrô de São Paulo.
A trajetória de Gabriel Galípolo
Quando foi escolhido para o posto de diretor de Política Monetária, integrantes do governo e agentes de mercado viram no movimento um ensaio de Lula para o próximo passo: a sucessão de Roberto Campos Neto, que tem mandato até 31 de dezembro deste ano.
Além de sua trajetória no setor financeiro, Galípolo também construiu uma rede de contatos na academia, que o ajudou a estabelecer uma relação com Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda.
Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra de ter intermediado a apresentação de ambos em 2021. No último livro de Haddad, lançado em 2022, Galípolo é mencionado nos agradecimentos por sua contribuição.
Quais são os planos de Galípolo para o BC?
Desde que assumiu a diretoria de Política Monetária do BC em julho de 2023, Galípolo participou de nove reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Suas decisões têm gerado discussões acaloradas, especialmente quando o colegiado se dividiu sobre a magnitude dos cortes na taxa Selic.
Em um esforço de comunicação, Galípolo tem enfatizado pontos da ata do Copom, como a projeção de 3,2% para a inflação do primeiro trimestre de 2026, avaliando que está “acima da meta”. Ele reforça que todas as opções estão na mesa, incluindo a possibilidade de aumentar a taxa básica de juros para controlar a inflação.
Além da visão técnica, Galípolo traz uma postura conciliadora, buscando equilibrar interesses heterodoxos e preferências do mercado financeiro. Essa habilidade de diálogo se mostrou crucial em sua passagem pelo Ministério da Fazenda, onde atuou como secretário-executivo, facilitando conversas entre parlamentares e tratando de temas complexos como tributação e subvenções de ICMS.
Desafios de Gabriel Galípolo no BC
A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central será submetida novamente à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O desafio central do economista será conciliar as expectativas de mercado para a manutenção do compromisso com o combate à inflação e a pressão do governo para a redução da taxa de juros.
Galípolo chega à presidência do Banco Central com a responsabilidade de gerir uma das instituições mais estratégicas da República. Seu mandato de quatro anos começa em 1 de janeiro de 2025, e ele precisará equilibrar uma postura técnica independente com a necessidade de dialogar com diferentes setores da economia e do governo.
Com informações do site: Valor – Globo