O Nubank está promovendo mudanças significativas em sua área de gestão de risco de crédito, justamente quando o mercado começa a questionar a trajetória de inadimplência da carteira do banco. Desde 2020, Ravi Prakash estava à frente dessa função, mas ele agora deixa a empresa para liderar a mesma área no Robinhood, uma fintech americana de investimentos que revolucionou o mercado com corretagem de baixo custo.
Prakash foi peça-chave na estratégia de ‘low and grow’ do Nubank, que foca na concessão de pequenos créditos – que podem ser tão baixos quanto R$ 50 – para clientes de baixa renda, aumentando gradualmente os valores conforme o histórico de pagamento dos mesmos. Este método se destacou e ajudou o banco a crescer significativamente.
Quem é Tyler Horn?
Para substituir Ravi Prakash, o Nubank contratou Tyler Horn, um executivo com um histórico semelhante. Horn tem mais de uma década de experiência na Capital One, o quarto maior emissor de cartões de crédito dos Estados Unidos e um dos maiores bancos do país. Nos últimos três anos, Horn liderou a gestão de risco de crédito na divisão de cartões da Capital One.
Horn responderá a Henrique Fragelli, o Chief Risk Officer (CRO) do Nubank desde 2018. Embora haja uma hierarquia, a estrutura da área de risco do banco é notoriamente horizontal. Em um videocast realizado há três meses, Prakash foi apresentado como ‘VP de risk management’, destacando essa abordagem de gestão.
Por que a mudança ocorre num momento crítico?
O novo CCO assume a função num momento de inflexão para o Nubank. Recentemente, houve um aumento na participação de modalidades de crédito além do tradicional cartão de crédito à vista, o que está modificando o perfil de inadimplência da instituição. Historicamente, o Nubank mantinha um percentual de empréstimos em atraso menor que seus pares no mercado brasileiro. Porém, em maio, o banco viu esse índice piorar, o que acendeu uma luz amarela para alguns investidores.
Dados do Banco Central, divulgados no fim da semana passada, mostraram um aumento de 49 pontos base no percentual de empréstimos com atraso de mais de 90 dias, alcançando 10,2% do total. Esse cenário preocupante levanta questões sobre a estabilidade financeira da instituição no longo prazo.
O que os dados recentes indicam sobre o Nubank?
Apesar das tendências de inadimplência, o Nubank manteve um crescimento robusto de sua carteira de crédito, superior a 50%. Essa ampliação sugere que a deterioração na qualidade dos ativos ainda não impactou negativamente o apetite de risco do banco. Até 2022, o crédito no Nubank estava concentrado principalmente em cartões de crédito à vista, que não cobram juros, e representavam 85% da carteira.
Desde então, o Nubank tem avançado em outras modalidades, como Pix Crédito e crédito pessoal, aumentando a parcela da carteira de crédito sujeita a juros para 32%. Embora isso pressione a inadimplência, resulta numa receita maior de juros para a instituição. O foco do banco está no valor presente líquido das operações de crédito, que tem crescido apesar das taxas de inadimplência.