Mais uma Super Quarta se encerrou com decisões cruciais de política monetária tanto no Brasil, na reunião do Copom, quanto nos Estados Unidos, com anúncios feitos pelo Fed.
No caso dos EUA, Jerome Powell sugeriu que o corte de juros “está na mesa” caso a inflação continue a desaquecendo. Já no Brasil, a decisão não trouxe surpresas: a taxa Selic foi mantida inalterada em 10,50%, e segundo o Boletim Focus, deve permanecer assim até o fim do ano.
Contudo, há quem discorde dessas escolhas. Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, argumenta que, considerando o cenário macroeconômico, o Copom deveria, na verdade, elevar a taxa básica de juros.
Elevação da Taxa Selic: Possibilidade ou Necessidade?
Spiess defende que uma elevação da Selic seria necessária dado o atual contexto econômico:
“Não vejo o Banco Central subindo juros, por mais que, pragmaticamente, seja o que ele deveria fazer ao observar a desancoragem das expectativas e o processo de inflação”, afirmou ele em entrevista ao Giro do Mercado.
Mas o que realmente está por trás dessa estabilidade na Selic? Vamos analisar os fatores que influenciam essa decisão e como ela impacta a economia.
O Governo é o ‘Vilão’ no Corte da Selic?
Para Matheus Spiess, um dos principais culpados para a manutenção da Selic em patamares altos é a falta de responsabilidade fiscal do país. Recentemente, o ministro Fernando Haddad anunciou um corte de R$ 15 bilhões no orçamento de 2024 para cumprir o arcabouço fiscal.
No último domingo (28), o presidente Lula também se pronunciou em defesa da responsabilidade fiscal, ecoando o ensinamento de sua mãe: “entre as muitas lições de vida que recebi, aprendi a não gastar mais do que ganho”.
No entanto, Spiess acredita que esse congelamento de R$ 15 bilhões no orçamento é insuficiente para mudar a percepção do mercado sobre os cortes de gastos do governo:
“O governo que tanto critica os juros mais altos vai ter que conviver com isso porque ele mesmo desancora as expectativas do mercado sobre os cortes de gastos”, declarou o analista.
Como a Economia e a Bolsa de Valores Reagem?
O cenário de incertezas na economia brasileira tem reflexos diretos na bolsa de valores. Desde o início do ano, o Ibovespa, principal índice de ações, já desvalorizou quase 5%.
No entanto, Spiess vê oportunidade na adversidade, argumentando que a recente queda do Ibovespa abriu espaço para investimentos em ações de altíssima qualidade, agora com preços atraentes:
- Mais contenções de gastos do governo: Medidas adicionais de controle fiscal podem gerar confiança no mercado.
- Discurso duro do Banco Central: A manutenção de uma postura rígida pode estabilizar expectativas.
- Corte de juros nos EUA: Movimentos do Fed podem influenciar positivamente o mercado brasileiro.
“Tudo isso possibilitaria uma reprodução das altas do Ibovespa no início de julho, quando saltou mais de 3% na primeira quinzena do mês”, explicou Spiess.
Saber Onde Investir é Fundamental
Apesar dos preços atraentes, Matheus Spiess alerta que não é hora de “comprar qualquer coisa” na bolsa brasileira. O cenário ainda está conturbado, e é essencial focar em ações de alta qualidade:
“Nós temos ativos bons, rentáveis. As ações brasileiras não estão só baratas, estão também com alta qualidade. Temos empresas boas, com TIR [Taxa Interna de Retorno] de dois dígitos e que estão abandonadas”, afirma analista