O meio ano pode realmente redefinir estratégias e mudar panoramas no mundo financeiro. Recentemente, a Bradesco Asset, liderada por Bruno Funchal, teve que rever suas apostas de investimentos após um semestre que desafiou as expectativas iniciais. Com um patrimônio impressionante sob sua gestão, ultrapassando os R$ 700 bilhões, a empresa se prepara agora para um período de maior prudência nas movimentações de mercado.
Cenário econômico atual
Bruno Funchal, que também já exerceu o cargo de Secretário do Tesouro Nacional, sinaliza um segundo semestre de 2024 carregado de incertezas e discussões elevadas sobre metas fiscais, o que pode afetar diretamente os ativos considerados mais arriscados, como a bolsa brasileira. Contudo, existe uma esperança de fortalecimento do real frente ao dólar nos próximos meses, aponta o gestor.
Na entrevista concedida, Funchal delineou um panorama menos otimista do que o esperado anteriormente, com especial atenção para a volatilidade da bolsa brasileira e a estagnação dos juros. Para ele, o contexto de taxas de juros que não acompanharam a expectativa de quedas significativas é parte central da recente cautela do mercado.
Impactos na Bolsa Brasileira
O gestor da Bradesco Asset compartilhou insights sobre os próximos movimentos da bolsa de valores. Com o adiamento na baixa dos juros, o começo de 2024 foi marcado por recuos significativos, mas Funchal acredita que há espaço para recuperação. Segundo ele, tudo dependerá das medidas econômicas dos Estados Unidos e das condições macroeconômicas do Brasil nos próximos meses.
No ano passado, a Bradesco Asset previa que a queda da Selic deveria provocar um movimento “praticamente inevitável”: a migração de recursos que estavam na renda fixa para a bolsa. Porém, o pilar da tese otimista da Bradesco Asset para a bolsa eram os juros abaixo dos dois dígitos. A gestora esperava que o Banco Central interrompesse as reduções quando a taxa chegasse aos 8,5% ao ano. No entanto, o relaxamento monetário não avançou conforme o esperado: o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) continuou a postergar as sinalizações de uma possível redução nas taxas.
Isso levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a desacelerar o passo no Brasil também. Na última reunião, em junho, o colegiado optou pela manutenção da Selic a 10,50% ao ano, interrompendo o alívio monetário iniciado em agosto de 2023. A mudança na trajetória levou a Bradesco Asset a recalcular a rota de previsões para os juros. Agora, a gestora prevê apenas um corte na Selic até o fim de 2024, encerrando o ano com uma taxa terminal de 10,25% a.a.
Classes de ativos promissoras
Enquanto a bolsa continuou morna no primeiro semestre, outra classe de investimentos aproveitou para brilhar: o crédito. Funchal destacou que o fechamento de spreads valorizou muito os fundos de crédito. Além disso, as mudanças regulatórias nos títulos incentivados, como CRAs e CRIs, também empurraram os investidores para essa classe. No entanto, na visão do presidente da Bradesco Asset, o espaço para ganhos com crédito já está se fechando.
“A gente teve fechamento de spreads e isso acabou valorizando muito os fundos de crédito. Além disso, as mudanças regulatórias nos títulos incentivados, CRAs e CRIs, também empurraram os investidores mais para essa classe”, afirmou o CEO. Entretanto, na visão do presidente da Bradesco Asset, o espaço para ganhos com crédito já está se fechando. “O presente é crédito, mas o futuro próximo será o momento de outras classes de ativos, então é preciso voltar a diversificar, porque logo o Fed deve começar a baixar os juros.”
Na avaliação de Bruno Funchal, duas classes de investimentos tendem a começar a se valorizar entre o segundo semestre e o início de 2025: a bolsa brasileira e a chamada “renda fixa ativa” — fundos que buscam superar o CDI através de gestão ativa do portfólio. Do lado da renda variável, o CEO da Bradesco Asset vê oportunidades e assimetrias na bolsa — desde que o investidor saiba encontrar “empresas baratas e com bons balanços”.
Projeções para o câmbio
Se a previsão para o segundo semestre é de retomada da bolsa e de uma tímida redução nos juros até o fim do ano, o que esperar do câmbio? Para a Bradesco Asset, a tendência para os próximos meses é de queda do dólar. A moeda norte-americana já subiu 15,29% desde janeiro e chegou a superar a marca de R$ 5,59 na semana passada.
“O ruído interno atrapalhou muito o real, então tivemos uma desvalorização de mais de 10% do câmbio. É muita coisa, foi uma das moedas que mais se valorizou no mundo”, afirmou Bruno Funchal. Entretanto, na visão do gestor, após a expressiva valorização em 2024, a divisa logo deve começar a devolver parte dos ganhos. “Enquanto ainda tivermos essa incerteza local, acho que a moeda brasileira ainda vai sofrer. Virada essa página, talvez mais para o final do ano, acredito que o dólar pode voltar a encostar em R$ 5,10”, afirmou o CEO.
A Bradesco Asset aposta que o dólar deve iniciar a trajetória de queda assim que o Fed iniciar o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, terminando o ano na casa dos R$ 5,05. É uma projeção ousada, já que significa que a moeda deve se desvalorizar até 9,7% em relação ao último fechamento. Além disso, deve-se levar em consideração que as projeções dos próprios diretores do Fed indicam atualmente a possibilidade de apenas um corte em 2024 — e provavelmente na reta final do ano.